TAP defende casal de lésbicas vencedoras do passatempo alusivo ao dia de São Valentim perante a mais hedionda e cobarde sessão de enxovalhamento público tão própria do ódio que parece destilar das redes sociais e fóruns de debate online.
Independentemente de todas as polémicas em que a transportadora aérea nacional possa estar envolvida, nomeadamente quanto à sua estratégia comercial, facto é que a posição tomada ontem na defesa dos mais elementares direitos é merecedora do mais forte aplauso.
A premissa do passatempo? Nada mais simples…A TAP oferecia uma viagem aos casais que mais rapidamente se deslocassem aos postos de check-in, propositadamente criados para o efeito, nos aeroportos do Porto e Lisboa. Tudo corria dentro do normal até ao momento em que foi publicada a foto de um dos casais vencedores, duas jovens raparigas. Seguiu-se uma onda de obtusos e criminosos comentários, atentando à sua orientação sexual, aliás constitucionalmente garantida.
Diversamente daqueles que se dirimem dessa obrigação, fechando os olhos, meramente imputando os comentários feitos à “exclusiva responsabilidade daqueles que os emitem”, a TAP não teve pejo em eliminar todos os comentários ofensivos, assumindo uma postura forte e exemplar que devia ser seguida por todos os espaços de discussão pública.
É perturbante passarmos os olhos pelos fóruns de debate online e respectivas páginas das redes sociais, caso dos jornais e outros média, plenos de autênticas torrentes de obscenidades, injurias e até ameaças à integridade física. Perante a passividade destas entidades, e com a responsabilidade social que lhes assiste, estes espaços que deveriam promover o debate tornaram-se verdadeiros campos de batalha em que tudo parece valer, sobretudo quanto estão em causa temas “fracturantes” como o sexo, a política, a religião e, porque não dizer o futebol… Mas será correcto sequer utilizarmos esta terminologia…temas fracturantes? Ou é o ónus de uma sociedade (universal) tacanha, preconceituosa?
A liberdade de expressão, tal como qualquer outro direito, não é em si absoluto, sobretudo na relação com outros direitos e liberdades fundamentais…E não me venham como um “Ai somos todos Charlie mas só quando nos convém”. Não comparemos a sátira política e social (há lugares próprios para medir os seus excessos, se assim considerados) com o puro insulto e intimidação, sobretudo quando, no mais das vezes, sob as vestes do mais cobarde anonimato.
A actuação TAP deve tornar-se o precedente a adoptar. Não podemos tolerar comportamentos indecorosos só porque estamos na esfera do “online”. Os direitos, as liberdades, o bom senso, não conhecem limitações físicas ou temporais (ou assim deveria ser). Chega de pactuar com comportamentos racistas, xenófobos, discriminatórios. A moderação de comentários em nada afecta a liberdade de expressão!
Escreve a transportadora na publicação do Facebook da “polémica"…“A TAP cumpre a Constituição e a Lei portuguesas e não faz discriminação em função da orientação sexual. Apelamos a todos os que comentam que utilizem linguagem adequada e não ofensiva e que respeitem os restantes utilizadores e as opções individuais de cada um”
Os meus Parabéns!