(cartoon: "The Independent")
Numa Copa marcada pela polémica e forte contestação ("Dilma vai tomar no c..." foi bem audível), a canarinha beneficiou de um penalty "divino" para iniciar o Mundial com uma vitória sobre a brava selecção croata...A cerimónia de abertura essa, apesar de muito prometer, foi de bocejar e a música oficial do campeonato cantada por Pitbull, Jennifer Lopez e Cláudia Leitte..."Minha nossa", como diriam os brasileiros, é simplesmente má demais! Um hino à piroseira! Comercial não tem necessariamente que ser mau (ou tão mau), o Waka Waka de Shakira deixa saudades.
Vamos então por partes.
O Mundial que prometia ser o expoente máximo do orgulho da afirmação económica brasileira tem sido inversamente o rastilho de todo o descontentamento reinante, o espelho de um país poderoso mas marcado por gritantes assimetrias sociais...Do País das grandes metrópoles para o País rural, do Brasil dos condomínios de luxo para o Brasil, paredes-meias, das favelas e do crime organizado...Um quadro em nada abonatório.
Terá deixado o futebol de ser o ópio do povo? Não necessariamente. O crescimento económico do Brasil, apesar das disparidades sociais e do clientelismo que continuam a persistir, tem permitido o surgimento de uma classe média melhor preparada, dotada de um nível de escolaridade superior mas necessariamente também mais exigente e mais ciente dos seus direitos.
Os rios de dinheiros gastos no Mundial de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016 chocam boa parte da população, quando são por demais evidentes as insuficiências / desiguladade no acesso à saúde, à educação, nos transportes e a uma educação digna. O povo brasileiro já não se basta só com o sambar e uns toques na bola...A exigência acompanha o crescimento político-económico de um país.
As próprias obras associadas à Copa que iriam revolucionar o sector da mobilidade e transportes ficaram muito aquém do prometido. Das 167 empreitadas previstas nas 12 cidades-sede do Mundial, 68 ficaram prontas (questiono-me em que estado), 60 estão incompletas, 28 só serão concluídas após o campeonato e 11 foram abandonadas. Entre o trabalho que ficou por fazer destaca-se o mítico trem-bala (ou o TGV em versão brasileira) que prometia ligar o Rio de Janeiro a São Paulo em 80 minutos, um serviço que beneficiaria cerca de 17 milhões de passageiros por ano e que ainda não saiu do papel. O concurso público para a sua adjudicação só será lançado após a Copa, sendo certo que não estará pronto sequer para as Olimpíadas de 2016.
Os próprios estádios do Mundial parecem ter sido terminados com "cuspe e cola" tais os monumentais atrasos e derrapagens orçamentais, sem esquecer os 8 trabalhadores que morreram durante as obras. O Itaquerão em São Paulo, palco do jogo inaugural, ainda estava a merecer trabalhos a poucas horas do jogo, já para não falar da prometida cobertura do estádio que ficou por fazer.
Quanto à cerimónia de abertura que prometia vida e cor, os únicos motivos de destaques foram o colorido azul e amarelo que enchia as bancadas e a vaia e contestação monumentais à FIFA e à presidente Dilma Rousseff, que por certo temerosa de despoletar ainda mais a ira dos presentes, prescindiu do direito ao habitual discurso de abertura. Se "Dilma (ou Fifa) vai tomar no c...", entre outros impropérios, se faziam ouvir no estádio, nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro decorriam confrontos violentos entre os manifestantes e as forças da autoridade.
Voltando ao jogo, uma selecção brasileira sentido por certo a pressão de jogar em casa (o "Maracanazo, derrota em casa do Brasil na Copa de 1950 frente ao Uruguai, ficou para sempre presente na memória colectiva dos brasileiros), entrou no jogo sem grandes ideias, denotando nervosismo, o que foi visível na jogada que culminou num autogolo de Marcelo. Vendo-se em desvantagem, valeu um inspirado Neymar que além do golo do empate, concretizou, num polémico penalty, o segundo golo da canarinha, numa altura em que não se adivinhava um golo no jogo, amarrado de tal forma que estava. O terceiro golo da autoria de Óscar, surgiu nos descontos da partida, quando o Brasil estava sobretudo preocupado em não sofrer, tão evidente que era a pressão croata.
Voltemos ao polémico penalty, que não deixou dúvidas sequer à imprensa da "casa", e que contribuiu sobejamente para que o Brasil se estreasse a vencer no Mundial. O árbitro japonês Yuichi Nishimura, escolha surpreendente para o arranque da competição, e por certo pouco habituado a estas andanças, deixou-se levar pelos ritmos da festa ou por alguma canarinha na bancada, tão mal simulado que foi o "penalty" de Fred. O brasileiro ainda teve a ousadia de apontar os dedos para o Céu agradecendo a ajuda divina...O Pecado dos Justos? O Crime afinal compensa?! (distâncias à parte, fez-me lembrar os mafiosos italianos quando dão um beijo na cruz depois de "despacharem alguém"). Certo é que sem este lance teriam sido muitas as dificuldades do Brasil para vencer esta partida.
Terminado este Dia 1 do Mundial esperemos pelos próximos episódios, num mês que se promete recheado e em que as nossas aspirações se baseiam num Ronaldo inspirado. Força Portugal, venha de lá essa Taça!
Sem comentários:
Enviar um comentário