domingo, 31 de março de 2013

Memórias do Passado - O Telefone



Qual foi a última vez que ligaram para a casa de alguém?


Os telefones fixos parecem cada vez mais algo caído no esquecimento. Os pacotes combinados oferecidos pelas operadoras ressuscitaram um pouco o seu uso mas na prática permanecem como peças abandonadas numa cómoda ou numa qualquer mesa de canto. 


Sejamos sinceros, tirando o número de casa dos avôs, a marcação de um serviço ou a pizza que queremos encomendar, quantas vezes pegamos realmente no telefone fixo?


Quando toca é muito raro atendermos pois sabemos que do outro lado da linha estará certamente um operador de call-centre a tentar impingir-nos algo.


No outro dia em conversa, falávamos do telefone como algo que ficou congelado nos anos 90. Uma amiga dizia-me de forma divertida ”ainda me lembro que quando ligavam rapazes lá para casa, o meu pai perguntava logo quem era, não havia nenhum que lhe escapasse (…) ui e quando a conta de telefone chegava…!”



Recordo-me dos primórdios da Internet quando necessitávamos de uma linha telefónica para acedermos à web. Como a linha permanecia ocupada, a maior parte de nós acabou por ter a sua própria linha telefónica, o que a meio dos 90 para nós teenagers, diga-se, até dava algum estatuto. “Epá não me ligues para casa, liga antes para o nº do meu quarto” ou “Tens aí o meu número privado, podes ligar-me a qualquer hora”. Era quase um acto de rebeldia, a nossa “independência” por via de uma linha de contacto.


Uns anos depois e evolução da Internet e os telemóveis acabaram com o fenómeno.


Recuando um pouco mais até à nossa infância, o que dizer dos antigos telefones de discar…saudades! Havia pessoas que eram autênticas máquinas na arte de discar, o disco parecia girar a uma velocidade estonteante…Agora experimentem explicar isso a alguém com menos de 15 anos…


No outro dia vi um gadget de uma marca, que apesar de ser um telefone wireless e com painel digital, recuperava o mítico disco numa interpretação muito própria. Provavelmente tornar estas peças como algo vintage será a melhor forma de mantê-las actuais para que o tempo não as remeta para uma distante memória colectiva.




sexta-feira, 29 de março de 2013

A "Gap" for Fashion!




A Moda é um corpo enigmático que se parece mover sem direcção definida. Entender as tendências é algo por certo só ao alcance de meia dúzia de “iluminados”. 

O que dizer quando uma imperfeição dentária virá o último grito de moda! Apresento-vos o Diastema ou, num termo mais fashion, “The Gap”.


Numa mulher apreciamos as curvas, a intensidade do olhar, a beleza do sorriso. Se há coisa que acho esteticamente de fugir é o espaçamento entre os dentes da frente. Que me desculpem mas é simplesmente feio. 

Sempre me surpreendi com o facto de algumas mulheres (e homens) com posses para remediar este problema, ao invés de fazê-lo, optam exactamente por exibir esta falha com orgulho. Veja-se os casos de celebridades como Madonna, Anna Paquin, Jane Birkin ou Vanessa Paradis.


Pior do que isto tudo, é tentar decifrar como é que algo tão inestético virou tendência de moda! A modelo holandesa Lara Stone, elogiem-se as suas curvas, é porventura o símbolo máximo desta tendência que inunda blogs, revistas e publicações da especialidade. Simplesmente para além da minha compreensão.


Ao fazer uma pequena pesquisa, se já me sentia incrédulo ainda mais faz fiquei ao saber que há mulheres, sobretudo nos EUA, que recorrem propositadamente a uma intervenção médica para criar diastemas artificialmente.

O procedimento apesar de ser simples, bastando desgastar a camada externa dos dentes por via de uma lixa própria ou broca, traz desvantagens para a saúde oral, fundamental para o nosso equilíbrio. Ao desgastar-se o esmalte perde-se progressivamente a camada de protecção para os dentes. 


Promover de forma tão expansiva esta imperfeição dentária além de inestético é algo irresponsável. Na linha, embora com muito menos gravidade, da glorificação da magreza extrema e dos distúrbios alimentares associados.

quarta-feira, 27 de março de 2013

"Virgularização da Sociedade"



Escreve-se cada vez pior neste País. Há tanto para dizer que difícil é saber por onde começar.


Substantivam-se verbos (o “comer”), é o “disse a ela” e o “dei a ele”, utilizam-se todos e mais alguns artifícios de suporte como o “prontos” e o “atão”, inventam-se neologismos de circunstância, virgulariza-se tudo!


O acordo, ou melhor o desacordo ortográfico, não é desculpa para todos os males, embora seja um dos seus principais críticos. Escreve-se simplesmente mal.


Curioso é que os erros vêm, boa parte das vezes, daqueles que por posição, experiência ou qualificações menos seria de prever…mas também o que poderíamos esperar de um país repleto de “Doutores de Faz de Conta” onde a mediocridade, mais do que premiada, é um posto. Se lhes juntarmos os infindáveis tachos e tachinhos temos o retrato completo.


Uma das tendências que mais tenho constatado nesta deprimente salgalhada de erros é o que chamaria de “virgularização da sociedade”. Para que não se acuse alguém de não respeitar as mais elementares regras de pontuação, opta-se simplesmente por bombardear, literalmente,  todo e qualquer  espaço com vírgulas, tornando cada leitura uma sofrida, e por vezes imperceptível, jornada apenas comparável na repetição de símbolos à multiplicidade de cruzes no boletim de apostas de um qualquer jogador inveterado.


Nesta “aldeia global” de cópias e imitadores, terreno de uma homogeneização forçada, a defesa do nosso património linguístico terá que ser um dos imperativos a preconizar como salvaguarda da identidade de um povo com quase nove séculos de História.

segunda-feira, 25 de março de 2013

And now, a time for classics...7


Hoje recupero uma das minhas séries de infância, "Os Jovens Heróis de Shaolin" que passou na RTP entre 1986 e 1987.

 A série que tinha por heróis três jovens aprendizes de Kung Fu foi um verdadeiro sucesso mundial e a razão que me levou aos 6 anos a querer ir para uma arte marcial. Na altura foi o Karate mas depressa percebi que não era bem a mesma coisa do que via na Tv...Ainda assim ainda fiquei até aos meus 12 anos e guardo o meu cinto azul como recordação.



domingo, 24 de março de 2013

Entrevista Imaginária a um mirone das obras

 

Todos temos em nós uma espécie de mirone, uma sede voyeurista mais ou menos desperta de saber o que se passa na vida dos outros mas há aqueles cujas vidas parecem formatadas apenas para isso. Chamar-lhes-ia os “mirones profissionais”. Entre estes há uma subespécie muito particular, os mirones das obras.

Fomos saber mais sobre a vida destes particulares indivíduos. Apresento-lhes o Sr. Aníbal Silva, 45 anos, empregado de mesa, um autêntico apaixonado pela construção. Nascido e criado em Marvila, como gosta de dizer, recebeu-nos na sua casa com um sorriso largo e muito para contar.

Sr. Silva, muito bom dia, quer falar-nos um pouco sobre esta paixão?

Sabe, sinto que nasci para isto. Aprendi com o meu pai e o meu avô, pode dizer-se que é uma tradição de família. Já assisti para cima de 1000 obras em toda a minha vida. A primeira vez era gaiato, tinha os meus 7 anos. Foi amor à primeira vista…Era ver os outros miúdos a jogar à bola e eu ali, fizesse sol ou chuva, ninguém me arrancava do lugar!

Entendo mas faça-nos entender qual a razão de toda esta dedicação?

Meu amigo, sou licenciado pela Universidade da Vida. Gosto de ver bola mas senti que precisava de algo mais. O Futebol é bom mas o mironismo é um modo de vida! É espetacular ver os prédios a ganhar vida. Para mim é como se fosse Natal todos os dias!


É fácil ser-se mirone de obras em Portugal?

Ó amigo isto não está fácil…Agora com a crise parece que não há obras neste país, os mirones como eu agora têm que lutar pelo seu espaço.

Há por aí muito bom mirone mas não há apoios. Uma pessoa tem que emigrar, é triste!

Mas não me posso queixar, toda a gente sabe quem sou. É perguntar pelo Aníbal do boné! Uma vez até conheci um Doutor que era Engenheiro. Muito bom rapaz, ofereceu -me um boné. Daí o nome!

Quais são os principais problemas que um mirone enfrenta?

Epá se eu fosse começar nunca mais saíamos daqui, não pense que isto é fácil. Para começar temos os polícias, um gajo trepa para o muro e tal para ver melhor e lá vem um dos gajos azucrinar-nos. Deviam era estar a prender os políticos, esses gatunos!

E depois é a segurança…Aos 19 anos apanhei com um bloco de cimento no lombo, tava a ver que ia de vez! Mas aqui o Silva não se deixou acagaçar. Umas costelas partidas e tal e já estava pronto para outra.

Aliás até tenho que agradecer, foi assim que conheci a minha mulher, durante o mês que passei no hospital.

Então imagino que a sua mulher era a enfermeira que tratou de si?

Nada disso meu amigo. A minha mulher estava internada no quarto ao lado. Era mirone de desacatos e discussões. Não manteve a margem de segurança e já se sabe…Levou uma lambada que a deixou KO. São os riscos profissionais!

Por falar nisso, já pensou em enveredar por outros tipos de mironismo?

Quer-se dizer…já experimentei mas eu é mais obras. Tive um tio, paz à sua alma, que era mirone de acidentes mas deu-se mal!

Disse-me que o seu filho também é um apaixonado?

É verdade, aquele sacaninha é o meu orgulho. Sai ao pai, é um talento! Bem trabalhado há de ser o Cristiano Ronaldo dos mirones, o amigo aponte o que eu lhe digo!

A única coisa que me chateia nele é ter a cara chapada do Santos do 4ºEsq. A minha esposa é muito amiga dele e da mulher. Estão sempre a discutir e a minha Elisabete não perde uma. Até já foi de férias com eles!...Esperem lá, vocês querem ver que…?! Cala-te Aníbal, bem diz a tua mulher que és paranóico!

 

Sr. Silva, vejo que por vezes fala com alguma nostalgia do passado. De que sente falta?

Ó amigo, este País estava aí a precisar de um campeonato de um mundo ou de outra coisa para animar. O meu orgulho foi a Expo 98! Foram dias e dias ali a ver aquilo tudo a ser posto de pé…e a ponte, que maravilha! Ouvi dizer que a exposição também foi gira mas disso não percebo muito.

Também gostei muito do Europeu até fui a Braga de propósito para ver A Pedreira. Belos tempos! Se me sair o Euromilhões ninguém para o Aníbal do Boné!

Muito obrigado pelo seu tempo Sr. Silva e boa sorte.