“Casais que façam sexo pré-matrimonial passam a ser casados” titula o Jornal I na sua edição Online.
Num misto de curiosidade e espanto (se é que ainda é possível nos dias que
correm) abri o link da notícia para
ver com mais atenção.
“Um casal
indiano maior de idade que tenha relações sexuais passa a ser casado, segundo a nova lei aprovada esta semana
pelo tribunal da Índia.
“Se algum
casal decide consumar os seus desejos sexuais, então esse acto torna-se um
compromisso total com a aceitação de todas as consequências que daí possam
advir, excepto em certas circunstâncias especiais", acrescenta a lei, apesar de não detalhar as excepções, revela o
"New York Times".
A nova legislação afirma ainda que as crenças religiosas, que
normalmente marcam as cerimónias de casamento tradicionais, “são apenas
formalidades”, e portanto “não são necessárias para consolidar o casamento”.
A população
indiana não está satisfeita com a novidade e as redes sociais têm sido
invadidas com vários tipos de críticas, exigindo que a lei seja anulada”.
Ora bem, perante
tanta ignorância e impreparação do jornalista do I, tenho alguma dificuldade em
saber por onde pegar neste idiótico artigo/tradução que publicaram.
Desde logo, ainda
que não conheça o sistema político indiano a fundo, posso asseverar que o poder
legislativo não é uma prerrogativa dos tribunais judiciais, não lhes compete
criar leis mas sim velar pela aplicação das mesmas ao caso em concreto, a menos que se encontrem feridas de qualquer ilegalidade ou inscontitucionalidade. Quanto muito caberá ao juíz pronunciar-se no silêncio da Lei ou aclarar o seu sentido em caso de interpretação dúbia.
A separação de
poderes é (ainda) um dos princípios fundamentais de um Estado de Direito ou
aparente, ainda que de forma cada vez mais pervertida.
O “jornalista”
traduziu certamente as palavras rule/ruling como lei / aprovação de lei quando
o que está aqui em causa são decisões judiciais tomadas por um Tribunal
Superior da região de Madras…
Gosto igualmente da
“lei aprovada por esta semana pelo
Tribunal a Índia”. Não sei se o “I” considera que num país com mais de um
bilião de pessoas só haverá um tribunal? Porventura o Taj Mahal fará na opinião
do “jornalista” esse papel entre as visitas dos turistas, quem sabe…
Posto isto, e
tratando-se de um tribunal superior, poderá funcionar aqui o chamado
“precedente”, isto é, poderá influir em decisões judiciais posteriores, sendo a
interpretação a prevalecer em casos semelhantes.
É lamentável
depararmo-nos com esta progressiva falta de preparação, porque não ignorância,
dos profissionais de comunicação. As gaffes, erros sucedem-se a uma velocidade
vertiginosa, tamanha é a idiotice.
É preocupante o
estado a que o jornalismo chegou, fruto sem dúvida do desinvestimento feito ao
longo dos últimos anos. Desde logo leva a que deixe de haver jornalistas especialistas,
passando a serem quase uns “clínicos gerais” com as inevitáveis consequências,
sobretudo em domínios como a Política, a Economia e a Justiça. Por outro, leva
a que potenciais bons jornalistas optem por abandonar a carreira, ficando a
profissão à mercê de ignorantes, compadrios e alguns resistentes da “velha
guarda” ou um ou outro romântico incurável que perante a falta de condições
agarra-se de forma estoica ao amor pela profissão.
Tenho muita pena que
de dia para dia jornais de referência se apresentem cada vez mais, pelo menos
em parte, como autênticos folhetins humorísticos.
Para quem quiser ler a verdadeira história com maior rigor deixo-vos o seguinte link.
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