Quantos de nós podem dizer que
trabalham no que gostam? Pior, quantos de nós podem verdadeiramente aspirar a
fazer realmente aquilo para o qual estudaram e se prepararam.
Tempos houve em que um indivíduo
médio detentor de um canudo podia facilmente escolher o seu destino, a sua
carreira profissional. As portas abriam-se, as oportunidades pareciam imensas.
Com o passar do tempo este paradigma
foi-se alterando, fruto da crescente competitividade, dos novos mercados e da
avareza de alguns.
O facto é que o “faço o que gosto
e sou pago para isso” foi dando lugar à equação “não gosto do que faço mas sou
bem pago / ou o mais lírico “sou mal pago mas gosto do que faço.
As regras do jogo foram alteradas
pelos ditames dos mercados de capitais, pelas instituições financeiras e pela
promiscuidade destas com o poder político.
Hoje em dia, aqueles de nós que
estão nos 30 / 40 anos mas também aqueles que nos precedem e os que nos seguem
são levados a crer que “já é uma sorte termos emprego nos tempos que correm”. A
premissa dominante é “não fazes o que gostas e és mal pago mas atenção, alegra-te,
podia ser bem pior”.
É o defraudar de todos os nossos sonhos
e legitimas expectativas. Prometiam-nos “estuda, trabalha e verás o teu esforço
recompensado”.
Antigamente ser bom, ser competente
garantia-nos um salário satisfatório, hoje nem emprego nos assegura.
O esforço e o mérito estão longe de,
por si, serem garantes de uma carreira bem-sucedida.
A cunha, o contacto privilegiado
afirmam-se como as chaves para o sucesso. Ao mérito está reservado um lugar
secundário, só actua se estiverem reunidos outros predicados como o “estar à
hora certa no lugar certo” ou “agradar à pessoa certa e esperar que ela nos
reconheça o mérito” ou então, inebriados de um espírito aventureiro, deixar
tudo e todos e embarcar para novos destinos, novas realidades…E mesmo isso não
nos assegura por si o sucesso.
A lei da natureza impera mas numa
lógica pervertida. Não é o mais forte que prevalece, nem o mais inteligente mas
o mais astuto, o camaleónico.
Não basta sermos bons, há que
mexer os cordelinhos certos, saber a quem e como agradar.
À difícil conjuntura junta-se um
enraizamento temoroso daqueles há muito instalados, avessos à mudança, assustados
perante a presença de sangue novo, de novas ideias.
Para os mais romanticos, para
aqueles que se movem por princípio resta uma decisão…Partir e perseverar (e se…)
ou ficar e acreditar num feliz volte-face do destino, na janela de oportunidade
que um dia se há-de abrir…Mas e se tal nunca suceder?
É esta a sociedade que queremos?
Aqui estou eu a deixar o meu comentário como prometi. E este artigo tinha sem dúvida de comentar pois, visto estar agora no meu primeiro emprego, sei muito bem como é estar nesta situação.
ResponderEliminarHoje em dia tirar um curso superior, ter o canudo "na mão" já não é garantia de nada. Hoje em dia a garantia é, como disseste, a "cunha", os contactos. E com a crise e a enorme quantidade de desempregados, acabamos por aceitar os empregos que aparecem, dizemos que sim ao primeiro que nos aceitar. Não podemos dar-nos ao luxo de escolher. Há contas para pagar, responsabilidades, prazos, etc... e muitas vezes as pessoas acabam por seguir o caminho de "não gosto do que faço, mas ganho bem". É um dos grandes problemas da actualidade: a morte dos sonhos, dos objectivos, das expectativas.
Mas, para não encerrar de forma deprimente, deixo aqui a minha opinião André, de que escreves muito bem. Prometo vir aqui deixar um "olá" mais vezes!
beijo, Luísa Tovim
O prometido é devido, uma mulher de palavra.
EliminarSem dúvida Luísa, uma geração tão bem preparada como a nossa obrigada a aceitar o que vai aparecendo. Sonhos desfeitos, expectactivas ténues num bom futuro. Há contudo que perseverar.
Agora que inicias um novo desafio, desejo-te toda a sorte e podes contar com a minha ajuda no que precisares.
Um beijo e és sempre bem-vinda neste espaço. Fico a aguardar os teus "olás"