Encontrei-me com a Teresa Alves num agradável fim-de-tarde pela zona do Chiado. Sempre bem-disposta e com o seu timbre enérgico, deu-nos a conhecer um pouco mais da pessoa por trás da apresentadora da Mega Hits.
Teresa, és uma mulher da rádio. Sentes haver algum
preconceito, mesmo dentro do meio, de que quem “triunfa na rádio é aquele que
consegue dar o salto para o pequeno ecrã”?
Parece-me
uma ideia feita que poderá ter alguma fundo de verdade. Eu nunca fiz televisão
mas há quem diga que a rádio é uma grande escola. Na verdade, acredito que são
dois meios diferentes mas que se entendem no discurso, na relevância e no papel
que devem ter junto da opinião pública.
Imagino que sejam inúmeras as histórias para
contar sempre que entras no ”ar”. Qual foi a maior surpresa que te fizeram durante
uma emissão? E o momento que mais te deixou corada/envergonhada?
Normalmente, passo o meu dia de anos a trabalhar, não tiro férias porque
gosto de passar este dia com as pessoas que trabalham comigo, que são
importantíssimas para o meu bem-estar e que adoro. Lembro-me de um aniversário
há 2 ou 3 anos em que os meus companheiros de manhãs André Henriques e Paulo
Pereira me fizeram uma canção, pegando no instrumental da In Da Club (It’s your
birthday) do 50 cent, cuja letra circulava à volta do “Teresa, são os teus
anos, este programa sem ti não vale um caracol”. Entre outras ideias.
Quanto ao momento de embaraço, tive poucos. Não sou pessoa de passar
vergonhas porque não me ponho a jeito para elas.
Quem já conheceste e
gostarias de conhecer no mundo da música? Quem mais te surpreendeu?
Já conheci algumas pessoas muito interessantes. Os artistas portugueses
são, regra geral, muito disponíveis e interessantes. Há cinco anos entrevistei
a Rita Redshoes e gostei imenso de a conhecer, na altura tínhamos muitas ideias
comuns. Já fora do mundo da música, gostei muito de entrevistar o ator Nuno
Lopes e o escritor José Luís Peixoto. Por outro lado, detestei entrevistar o
Keanu Reeves. Não gosto de julgar as pessoas pela primeira impressão, mas
pareceu-me ser presunçoso e desinteressante. Talvez estivesse num dia mau.
A rádio sobreviveu ao
evento da televisão, tem sobrevivido à Internet e às novas formas de
comunicação. Acreditas que continuará a existir no Futuro? Que papel lhe estará
destinado?
Acredito que a rádio continuará a crescer no futuro, sim. A escuta média de
rádio tem-se mantido constante nos últimos 10 anos em valores que rondam os 60%
do total da população portuguesa. A rádio faz parte do dia-a-dia das pessoas: a
caminho da escola, do trabalho, enquanto estudam, quando
regressam do ginásio, quando fazem longas viagens presas em pensamentos só
seus. Quem é que nunca pensou: “Ena, era mesmo esta a música que me apetecia
ouvir!”. A Internet não é capaz de nos surpreender desta forma – porque é uma
escolha nossa, cada um de nós faz “a sua própria Internet”, procura os
conteúdos de deseja ouvir no YouTube, no Spotify, na Last.fm. Este grau de
surpresa e de magia só se encontra na rádio. Já a televisão é alienante, não
nos permite consumi-la enquanto se realiza outra tarefa. E porque vemos tudo o
que a TV nos pretende mostrar, não há nada deixado simplesmente à nossa
imaginação.
Na rádio a personalidade
mais polémica que me vem à cabeça é Howard Stern. Consegues imaginar-te no
papel de sua co-locutora ou fugias dali a sete pés?
Fugiria dali a sete pés!
O Howard Stern é uma personagem marcante mas não partilho do seu estilo de
entrevista. Gosto de fazer perguntas incómodas para o status quo, não
incómodas ao nível da intimidade do entrevistado, que é um direito seu e que
lhe deve ser reservado.
Sendo tu uma profissional
de comunicação e ao mesmo tempo blogger (coautora do “stufftoliveandlove”) como
encaras o fenómeno de blogosfera? Sentes que há por vezes uma certa animosidade
dos média tradicionais face aos bloggers?
Por acaso, não sinto
essa animosidade. Acho que os média tradicionais (rádio, TV, imprensa...) têm
sabido olhar para os blogs na perspetiva certa: como fontes de informação. A
blogosfera representa um canal único de liberdade de expressão, logo, é uma das
maiores formas de representação de uma democracia participativa acessível a
todos.
A Teresa da Rádio é
diferente da Teresa do dia-a-dia? Qual o teu principal defeito?
Naturalmente,
é diferente, porque todos somos diferentes nos vários papéis sociais que somos
forçados a representar no nosso local de trabalho, em casa, junto dos nossos
amigos ou na aula de yoga. Lá está, a Teresa da rádio vive rodeada de música de
dança eletrizante e a Teresa do dia-a-dia pratica yoga três vezes por semana e
medita para se centrar.
Como te defines enquanto
mulher?
Curiosa, independente e
viva.
As malas de mulher são um
autêntico enigma para nós homens e muitas vezes para vocês mesmas? Se eu te
pedisse para abrires a tua qual seria a coisa mais inusitada que iriamos
encontrar?
Um
folheto do restaurante indiano ao lado de minha casa. Não sou capaz de recusar
um folheto do que quer que seja, mesmo quando já os acumulo em casa!
És uma recém
trintinha…Diz-se que os 30 são os novos 20 (e até há quem já fale que os 40 é
que são…). O que esperas desta nova década?
Não sou muito de
numerologia. Espero continuar a levar a cabo os projetos que me movem e que
trago comigo da década anterior.
Viajar é uma das tuas
paixões. Adoptas a postura “em Roma sê romano” ou não consegues despir a
“camisola” de turista? Qual a viagem que mais te marcou?
Acho que consigo
equilibrar-me dentro desses dois papéis. Por exemplo, quando vou ao Brasil uso
um cartão SIM de uma operadora local e tenho um número brasileiro, o que
praticamente me faz sentir local. Já na China, perante as estranhas iguarias
gastronómica que me foram oferecidas, tive de manter a minha postura de turista
e usar a minha ocidentalidade para recusar provar delícias como túbaros e
afins... A Islândia terá sido a viagem que mais me terá marcado. É um país de
grandes contrastes ao nível da paisagem – ora o quente dos vulcões, ora o frio
dos glaciares – e um grande exemplo ao nível da cidadania: um país cujos
próprios cidadãos organizaram uma auditoria cidadã à dívida, ousaram não pagar
a dívida que consideraram ilegítima e processarem os seus responsáveis, punindo
os verdadeiros responsáveis pela má gestão financeira do país.
Um livro e um filme?
“Cronicando”, do Mia
Couto, o meu escritor favorito. E quanto ao filme, “Janela Indiscreta” de
Hitchcock.
Teresa, estiveste
recentemente na África do Sul onde tiveste a oportunidade de visitar a prisão
de Robben Island e presumo a cela onde Mandela esteve 20 anos. Como foi a
experiência? Sentiste o peso da sua presença?
Foi uma das experiências
viajantes mais interessantes da minha vida. A visita guiada à Robben Island é
sempre realizada por ex-presidiários políticos, pessoas que contam na primeira
pessoa as histórias que por lá se passaram. Fiquei a saber, por exemplo, que
existiam nesta prisão quatro categorias de presidiários: os de classe A, B, C e
D, categorias essas que correspondiam ao nível de privilégios conferidos aos
presidiários graças ao seu comportamento (D os menos privilegiados, que apenas
podiam receber visitas uma vez por mês, e A os que detinham mais privilégios,
como poder ter papel e caneta na sua sela e receber jornais). Mandela, por
exemplo, manteve-se sempre na categoria A. fazia questão de manter um
comportamento exemplar dentro de Robben Island para poder obter o máximo de
informação do exterior e assim organizar a sua resistência e luta contra o
regime a partir da prisão. Graças a esta conduta, conseguiu escrever dentro da
prisão a sua obra “Long Way to Freedom”, que escondia debaixo de um canteiro no
pátio da prisão.
Por falar em Mandela, uma
personalidade que ambos admiramos...Do contacto que foste tendo com as pessoas
é perceptível algum receio, alguma tensão pelo que possa vir a acontecer após o
desaparecimento de Madiba?
Existe algum receio por
parte dos sul-africanos face à iminente morte de Mandela. Temem que, com a
morte do símbolo anti-apartheid, velhas quezílias sejam retomadas e antigas
feridas abertas.
Se pudesses viajar no tempo
que época escolherias e porquê?
Escolheria os anos 60 e
70, em França, Espanha e Portugal, para poder assistir às revoltas estudantis e
à libertação dos regimes ditatoriais destes dois últimos países. Fascina-me
esta consciência política de crença num mundo melhor dessa época, que julgo
termos perdido com o passar dos tempos e das gerações.
Para finalizar, e porque o tempo ainda ajuda…Qual foi a tua maior loucura de Verão?
Ter
começado um projeto de doutoramento e voltado a ser trabalhadora/estudante. É
preciso estaleca para este ritmo de vida intenso!
Teresa, obrigado por te teres prestado a ser a primeira "vítima" ;).
Fotos por Gonçalo Pereira Esteves
Grande entrevista! Gostei imenso de ficar a conhecer um pouco melhor a Teresa, as suas viagens e em particular a visita a prisão de Robben Island e ao mundo de Nelson Mandela.
ResponderEliminarUm beijinho,
Carmen
Breakfast@Tiffany`s
Sem dúvida, um óptimo começo para este novo espaço de entrevistas.
EliminarObrigada Carmen!
ResponderEliminarE sobretudo, obrigada André por este entardecer em forma de conversa!
Clocaste a fasquia alta para os próximos entrevistados Teresa :). Gostei muito, beijo
EliminarAdorei!
ResponderEliminarConversa que flui e que prende, pela diversidade e actualidade dos temas...fotos que retratam o prazer da conversa...gostei muito :)
Parabéns André e Teresa.
Um beijinho***
Eduarda
Obrigado Eduarda ;): Beijos
EliminarGostei muito da entrevista. É raro ler uma entrevista até ao fim sem me cansar e achei que esta estava muito bem estruturada e interessante. Eu que oiço a Teresa todos os dias, vou agora ouvi-la com outros "ouvidos". :) beijinhos e parabéns!
ResponderEliminarObrigado Marta pela parte que me toca mas não podia ter desejado melhor entrevistada para começar. Um beijo para ti e outro para a Teresa
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