domingo, 20 de outubro de 2013

Teresa Alves na Cabana


Encontrei-me com a Teresa Alves num agradável fim-de-tarde pela zona do Chiado. Sempre bem-disposta e com o seu timbre enérgico, deu-nos a conhecer um pouco mais da pessoa por trás da apresentadora da Mega Hits.


Teresa, és uma mulher da rádio. Sentes haver algum preconceito, mesmo dentro do meio, de que quem “triunfa na rádio é aquele que consegue dar o salto para o pequeno ecrã”?


Parece-me uma ideia feita que poderá ter alguma fundo de verdade. Eu nunca fiz televisão mas há quem diga que a rádio é uma grande escola. Na verdade, acredito que são dois meios diferentes mas que se entendem no discurso, na relevância e no papel que devem ter junto da opinião pública.

  

Imagino que sejam inúmeras as histórias para contar sempre que entras no ”ar”. Qual foi a maior surpresa que te fizeram durante uma emissão? E o momento que mais te deixou corada/envergonhada?

Normalmente, passo o meu dia de anos a trabalhar, não tiro férias porque gosto de passar este dia com as pessoas que trabalham comigo, que são importantíssimas para o meu bem-estar e que adoro. Lembro-me de um aniversário há 2 ou 3 anos em que os meus companheiros de manhãs André Henriques e Paulo Pereira me fizeram uma canção, pegando no instrumental da In Da Club (It’s your birthday) do 50 cent, cuja letra circulava à volta do “Teresa, são os teus anos, este programa sem ti não vale um caracol”. Entre outras ideias. 

Quanto ao momento de embaraço, tive poucos. Não sou pessoa de passar vergonhas porque não me ponho a jeito para elas.


Quem já conheceste e gostarias de conhecer no mundo da música? Quem mais te surpreendeu?

Já conheci algumas pessoas muito interessantes. Os artistas portugueses são, regra geral, muito disponíveis e interessantes. Há cinco anos entrevistei a Rita Redshoes e gostei imenso de a conhecer, na altura tínhamos muitas ideias comuns. Já fora do mundo da música, gostei muito de entrevistar o ator Nuno Lopes e o escritor José Luís Peixoto. Por outro lado, detestei entrevistar o Keanu Reeves. Não gosto de julgar as pessoas pela primeira impressão, mas pareceu-me ser presunçoso e desinteressante. Talvez estivesse num dia mau.


A rádio sobreviveu ao evento da televisão, tem sobrevivido à Internet e às novas formas de comunicação. Acreditas que continuará a existir no Futuro? Que papel lhe estará destinado?

Acredito que a rádio continuará a crescer no futuro, sim. A escuta média de rádio tem-se mantido constante nos últimos 10 anos em valores que rondam os 60% do total da população portuguesa. A rádio faz parte do dia-a-dia das pessoas: a caminho da escola, do trabalho, enquanto estudam, quando regressam do ginásio, quando fazem longas viagens presas em pensamentos só seus. Quem é que nunca pensou: “Ena, era mesmo esta a música que me apetecia ouvir!”. A Internet não é capaz de nos surpreender desta forma – porque é uma escolha nossa, cada um de nós faz “a sua própria Internet”, procura os conteúdos de deseja ouvir no YouTube, no Spotify, na Last.fm. Este grau de surpresa e de magia só se encontra na rádio. Já a televisão é alienante, não nos permite consumi-la enquanto se realiza outra tarefa. E porque vemos tudo o que a TV nos pretende mostrar, não há nada deixado simplesmente à nossa imaginação.


Na rádio a personalidade mais polémica que me vem à cabeça é Howard Stern. Consegues imaginar-te no papel de sua co-locutora ou fugias dali a sete pés?

Fugiria dali a sete pés! O Howard Stern é uma personagem marcante mas não partilho do seu estilo de entrevista. Gosto de fazer perguntas incómodas para o status quo, não incómodas ao nível da intimidade do entrevistado, que é um direito seu e que lhe deve ser reservado.


Sendo tu uma profissional de comunicação e ao mesmo tempo blogger (coautora do “stufftoliveandlove”) como encaras o fenómeno de blogosfera? Sentes que há por vezes uma certa animosidade dos média tradicionais face aos bloggers?

Por acaso, não sinto essa animosidade. Acho que os média tradicionais (rádio, TV, imprensa...) têm sabido olhar para os blogs na perspetiva certa: como fontes de informação. A blogosfera representa um canal único de liberdade de expressão, logo, é uma das maiores formas de representação de uma democracia participativa acessível a todos.

A Teresa da Rádio é diferente da Teresa do dia-a-dia? Qual o teu principal defeito?

Naturalmente, é diferente, porque todos somos diferentes nos vários papéis sociais que somos forçados a representar no nosso local de trabalho, em casa, junto dos nossos amigos ou na aula de yoga. Lá está, a Teresa da rádio vive rodeada de música de dança eletrizante e a Teresa do dia-a-dia pratica yoga três vezes por semana e medita para se centrar.


Como te defines enquanto mulher? 

Curiosa, independente e viva.


As malas de mulher são um autêntico enigma para nós homens e muitas vezes para vocês mesmas? Se eu te pedisse para abrires a tua qual seria a coisa mais inusitada que iriamos encontrar?

Um folheto do restaurante indiano ao lado de minha casa. Não sou capaz de recusar um folheto do que quer que seja, mesmo quando já os acumulo em casa!


És uma recém trintinha…Diz-se que os 30 são os novos 20 (e até há quem já fale que os 40 é que são…). O que esperas desta nova década?

Não sou muito de numerologia. Espero continuar a levar a cabo os projetos que me movem e que trago comigo da década anterior.

  

Viajar é uma das tuas paixões. Adoptas a postura “em Roma sê romano” ou não consegues despir a “camisola” de turista? Qual a viagem que mais te marcou?

Acho que consigo equilibrar-me dentro desses dois papéis. Por exemplo, quando vou ao Brasil uso um cartão SIM de uma operadora local e tenho um número brasileiro, o que praticamente me faz sentir local. Já na China, perante as estranhas iguarias gastronómica que me foram oferecidas, tive de manter a minha postura de turista e usar a minha ocidentalidade para recusar provar delícias como túbaros e afins... A Islândia terá sido a viagem que mais me terá marcado. É um país de grandes contrastes ao nível da paisagem – ora o quente dos vulcões, ora o frio dos glaciares – e um grande exemplo ao nível da cidadania: um país cujos próprios cidadãos organizaram uma auditoria cidadã à dívida, ousaram não pagar a dívida que consideraram ilegítima e processarem os seus responsáveis, punindo os verdadeiros responsáveis pela má gestão financeira do país.


Um livro e um filme?

“Cronicando”, do Mia Couto, o meu escritor favorito. E quanto ao filme, “Janela Indiscreta” de Hitchcock.


Teresa, estiveste recentemente na África do Sul onde tiveste a oportunidade de visitar a prisão de Robben Island e presumo a cela onde Mandela esteve 20 anos. Como foi a experiência? Sentiste o peso da sua presença? 

Foi uma das experiências viajantes mais interessantes da minha vida. A visita guiada à Robben Island é sempre realizada por ex-presidiários políticos, pessoas que contam na primeira pessoa as histórias que por lá se passaram. Fiquei a saber, por exemplo, que existiam nesta prisão quatro categorias de presidiários: os de classe A, B, C e D, categorias essas que correspondiam ao nível de privilégios conferidos aos presidiários graças ao seu comportamento (D os menos privilegiados, que apenas podiam receber visitas uma vez por mês, e A os que detinham mais privilégios, como poder ter papel e caneta na sua sela e receber jornais). Mandela, por exemplo, manteve-se sempre na categoria A. fazia questão de manter um comportamento exemplar dentro de Robben Island para poder obter o máximo de informação do exterior e assim organizar a sua resistência e luta contra o regime a partir da prisão. Graças a esta conduta, conseguiu escrever dentro da prisão a sua obra “Long Way to Freedom”, que escondia debaixo de um canteiro no pátio da prisão.


Por falar em Mandela, uma personalidade que ambos admiramos...Do contacto que foste tendo com as pessoas é perceptível algum receio, alguma tensão pelo que possa vir a acontecer após o desaparecimento de Madiba?

Existe algum receio por parte dos sul-africanos face à iminente morte de Mandela. Temem que, com a morte do símbolo anti-apartheid, velhas quezílias sejam retomadas e antigas feridas abertas.


Se pudesses viajar no tempo que época escolherias e porquê?

Escolheria os anos 60 e 70, em França, Espanha e Portugal, para poder assistir às revoltas estudantis e à libertação dos regimes ditatoriais destes dois últimos países. Fascina-me esta consciência política de crença num mundo melhor dessa época, que julgo termos perdido com o passar dos tempos e das gerações.


Para finalizar, e porque o tempo ainda ajuda…Qual foi a tua maior loucura de Verão?

Ter começado um projeto de doutoramento e voltado a ser trabalhadora/estudante. É preciso estaleca para este ritmo de vida intenso!



 Teresa, obrigado por te teres prestado a ser a primeira "vítima" ;).

Fotos por Gonçalo Pereira Esteves


8 comentários:

  1. Grande entrevista! Gostei imenso de ficar a conhecer um pouco melhor a Teresa, as suas viagens e em particular a visita a prisão de Robben Island e ao mundo de Nelson Mandela.

    Um beijinho,

    Carmen
    Breakfast@Tiffany`s

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    1. Sem dúvida, um óptimo começo para este novo espaço de entrevistas.

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  2. Obrigada Carmen!
    E sobretudo, obrigada André por este entardecer em forma de conversa!

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    1. Clocaste a fasquia alta para os próximos entrevistados Teresa :). Gostei muito, beijo

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  3. Adorei!

    Conversa que flui e que prende, pela diversidade e actualidade dos temas...fotos que retratam o prazer da conversa...gostei muito :)

    Parabéns André e Teresa.

    Um beijinho***
    Eduarda

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  4. Gostei muito da entrevista. É raro ler uma entrevista até ao fim sem me cansar e achei que esta estava muito bem estruturada e interessante. Eu que oiço a Teresa todos os dias, vou agora ouvi-la com outros "ouvidos". :) beijinhos e parabéns!

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    1. Obrigado Marta pela parte que me toca mas não podia ter desejado melhor entrevistada para começar. Um beijo para ti e outro para a Teresa

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