Acabei de ler um
destaque da Agência Lusa que titula "Leitura de livros em digital não
substituiu a de livros em papel " e de facto não podia estar mais de
acordo.
Confesso que apesar de ser um fã das novas tecnologias, na leitura afirmo-me um purista.
Encanta-me sentir o toque do papel nos dedos, o
folhear de cada nova página rumo a uma nova descoberta. Gosto de sentir o
cheiro de um livro novo, o odor do papel e da tinta, isto sem desprimor
para o mistério que se esconde num livre antigo
na sua tez amarelada e no seu odor por vezes acre mas que nos remete ao
mesmo tempo para um mundo perdido de magia, um segredo bem guardado
debaixo de humildes vestes.
Poderão dizer que os leitores electrónicos como o iPad,
o Kindle são mais fáceis de transportar, mais práticos e, com o passar
do tempo, mais económicos ,dado que podem receber
um sem fim de obras mas falta-lhes algo essencial…a magia! Aquela que
nos acompanha desde pequenos quando folheávamos as nossas primeiras
bandas-desenhadas, as nossas primeiras aventuras.
O livro electrónico é impessoal, pouco cativante
e não é digno do carimbo de refúgio que o livro de papel ostenta com
todo o mérito. Para além do mais, já bastam as horas atrás de horas que
passamos com os
olhos vidrados no ecrã, quais escravos da tecnologia…Permitam-nos ao
menos este pequeno esconderijo.
Aceito que me digam que como instrumento didáctico o
livro electrónico venha a ganhar importância mas não esgrimam como
argumento o facto destes gadgets serem mais ecológicos, é simplesmente
falacioso. Se é verdade que é impresso menos papel
(apesar do uso de papel reciclado dever ser cada vez mais uma
constante), não menos verdade é a quantidade de recursos naturais
empregues na produção destes instrumentos tecnológicos bem como a
quantidade de detritos que se acumulam sempre que decidimos trocar
por um modelo mais novo ou “mais adequado” às nossas necessidades.
Para a produção destes aparelhos, bem como dos
telemóveis ou laptops, são extraídos minérios pesados como o ouro, a
platina, o cobre, desbastando os recursos naturais para além de poluírem
os leitos de água mais próximos. Nas fábricas, em
grande parte localizadas no extremo asiático, onde as práticas laborais
estão longe de proteger a saúde dos trabalhadores, estes são muitas
vezes expostos a químicos e materiais tóxicos como o mercúrio, o chumbo e
o cádmio.
Pior que os nefastos efeitos da produção em si, são
aqueles que resultam do lixo tóxico que se acumula sempre que decidimos
que está na hora de “reciclar” os nossos aparelhos. Muito destes
resíduos são exportados em massa, apesar de todas
as proibições, para países em vias de desenvolvimento, onde se
acumulam em lixeiras a céu aberto contaminando os solos, o ar e as
águas.
Parafraseando, direi que
no meio está o equilíbrio, a virtude. A cada um destes objectos, o livro
digital e o de papel, está reservada uma função. Como mencionei talvez a
um caiba um papel mais didáctico
e ao outro uma vertente de lazer mas pelo que me diz respeito
manter-me-ei fiel ao velho amigo de infância.
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