A primeira vez que me deparei com este nome foi em 2007
quando decidi ir visitar uns amigos a Manchester. No grupo alguém sugeriu ir jantar ao Nando’s, o que pareceu merecer a concordância de
todos e da minha parte uma grande interrogação: “O que é o Nando’s?”
Explicação rápida...”É um restaurante de comida
tradicional portuguesa” e lá fomos.
Ao chegar a primeira surpresa. Pensei que me aguardava um restaurante num estilo algo rústico, típico e não certamente na
estrutura de franchising que o Nando’s é.
A segunda surpresa…A tão afamada comida portuguesa não
mais era do que o, imagine-se, frango no churrasco, o ex-libris da casa. Confesso que nunca identificaria tal “iguaria”
como sendo comida tradicional mas talvez esta seja a pura constatação de que as
ideias mais simples são aquelas que produzem melhores resultados.
Encontramos outros pequenos apontamentos nacionais como os clássicos pastéis de nata, os vinhos e algumas bebidas portuguesas (caso da Sumol e da Sagres) mas o que dá nome à casa, a pièce de résistance, é sem dúvida o frango. O “nobre” galináceo é preparado nas mais diversas marinadas com destaque para o frango ao piripiri (os diversos molhos e temperos são também vendidos em grandes cadeias de supermercados). Há o frango inteiro, os meios, os quartos e ainda as variedades em hambúrgueres, pitas, saladas ou as hot wings. Ao que parece em alguns locais têm outras “especialidades nacionais” como a espetada (?) e a cataplana de peixe e marisco.
Depois de encetada uma pequena pesquisa, deparei-me com
um verdadeiro case-study, um best-seller do franchising alimentar a nível mundial, presente em quase 30 países
(África do Sul, Austrália, Bahrein, Bangladesh, Botswana, Canadá, Chipre, EAU,
EUA, Fiji, Índia, Irlanda, Kuwait, Líbano, Lesoto, Malawi, Malásia, Namíbia,
Nova Zelândia, Nigéria, Oman, Paquistão, Qatar, Reino Unido, Suazilândia,
Turquia; segundo o site quem conseguir provar que esteve em todos os
restaurantes Nando’s desta verdadeira rota mundial, denominada “the hungry traveller”,
tem direito a comer de borla em qualquer restaurante da marca durante o resto
da vida) com destaque para a diáspora de língua inglesa. Só no Reino Unido há
255 restaurantes, 65 na zona de Londres…elucidativo. Único efeito perverso...as
mentes, digamos, menos “cosmopolitas” poderem catalogar a gastronomia
portuguesa como sendo isto.
A História do Nando’s remonta a 1987, quando dois
emigrantes luso-moçambicanos sedeados na África do Sul, decidiram investir numa
diminuta mas reputada churrasqueira, a “Chickenland”, no pequeno subúrbio de
Rosettenville, a sul de Joanesburgo.
Vestindo novas roupagens e com o galo de Barcelos como símbolo, o Nando’s depressa foi ganhando a reputação de que hoje goza, sem dúvida fruto do espírito empreendedor dos seus mentores.
O segredo do sucesso do Nando’s está também no seu
marketing agressivo, em particular nas suas arrojadas, porque não dizer
controversas campanhas publicitárias. Em 2010 a revista “Advertising Age” considerou a
marca com uma das 30 “hottest marketing
brands” do mundo.
Eis algumas das campanhas que geraram bastante polémica e
valeram mesmo, no primeiro caso, algumas ameaças para os responsáveis locais da
marca:
“Last dictator standing”;
África do Sul (2011) – Delicioso este anúncio em que um tristonho Robert Mugabe
(presidente do Zimbabué) janta sozinho à mesa de Natal enquanto recorda com
nostalgia “tempos mais felizes” na companhia dos seus (entretanto
desaparecidos) “amigos ditadores”. No clip de 60 segundos Mugabe surge a
brincar com pistolas de água com Muammar Khadaffi, a fazer “snow angels” na
areia com Saddam Hussein, a cantar kararoke com Mao Tsé-Tung, a empurrar P.W. Botha
no baloiço e andando alegremente de tanque com o sanguinário Id Amin numa
estranha coreografia ao melhor estilo de Titanic. Em pano de fundo a música “Those were
the days”.
Nando’s
diversity; África do Sul (2012) – Fantástico o anúncio que toca na questão da
imigração clandestina e da multiculturalidade da África do Sul.
Nando’s
blind woman; África do Sul (2000) – Um cão-guia faz embater propositadamente a sua dona num
poste para ficar com o frango acabado de comprar. O anúncio gerou grande controvérsia, sendo que muitos consideraram que poderia ser ofensivo para a comunidade invisual. O certo é que, ao que consta, às reacções mais divertidas terão vindo destes mesmos. Por vezes é o que dá quando se quer ser mais papista do que o Papa.
Nando’s Ramadan; África do Sul (2006) – Um esfomeado muçulmano em pleno Ramadão desespera pelo pôr-do-sol.
Nando’s missing chips; África do Sul (2010) – Acho que dispensa quaisquer comentários ;)
Curioso é o facto de este mega-franchise ser totalmente
desconhecido da, atrevo-me a dizer, maioria dos portugueses. O que me leva à
interrogação…Será que este conceito funcionária em Portugal?
Eu diria que sim. Apesar de não trazer nada de
particularmente novo, seria sem dúvida um sucesso se implementado nas zonas de
maior concentração turística como o Algarve, a Madeira e mesmo Lisboa. Noutro
âmbito, julgo que também funcionaria muito bem como “restaurante de shopping”.
Sem comentários:
Enviar um comentário