Roberto Calderoli, vice-presidente do Senado
italiano e triste desculpa para um ser humano, afirmou que Cécile Kyenge,
ministra da Integração, e primeira governante negra em Itália, lembra-lhe um orangotango.
"Adoro animais – ursos e lobos – mas quando
olho para imagens de Kyenge não consigo deixar de reparar nos traços de um
orangotango, e não estou a dizer que ela seja uma”, referiu numa conferência,
vindo agora defender-se que tudo não passou de uma piada.
Calderoli é membro destacado do odioso partido de
extrema-direita Liga do Norte, aliado privilegiado dos Executivos presididos
por Silvio Berlusconi, tendo ocupado funções ministeriais em duas ocasiões.
Não satisfeito com a sua "tirada
humorística", aconselhou Kyenge a ir "exercer funções para o País
dela".
Cécile Kyenge, oftalmologista de formação, nasceu
na República Democrática do Congo, tendo adquirido nacionalidade italiana em
1994. Nomeada Ministra da Integração no Executivo liderado por Enrico Letta, em
Abril deste ano, Kyenge tem sido alvo predilecto da extrema-direita italiana,
entre tentativas de agressão e um sem fim dos mais abjectos impropérios.
Em Junho passado, Dolores Valandro, também ela pertencente
à Liga do Norte e Conselheira Municipal na cidade de Pádua, comentando sobre
o caso de duas raparigas italianas vítimas de tentativa de violação por um homem
de origem africana, soltou no Facebook um "Mas não há ninguém que a viole,
ao menos para que possa entender o que sente a vítima de um crime infame? Que
vergonha!”, ilustrando com a foto de Kyenge.
Esta escumalha sub-humana fere de morte os princípios
europeus de democracia, tolerância e igualdade. O momento socioeconómico que
vivemos é terreno propício à proliferação e crescimento de movimentos de
extrema-direita, que fazem da imigração bode expiatório para a falta de emprego
e o aumento da criminalidade. É disso bom exemplo o lugar que vem ocupando a
Frente Nacional em França e nem os países escandinavos, tendencialmente mais
tolerantes, escapam a este flagelo. Veja-se o caso dos “Democratas da Suécia” que
conquistaram assento parlamentar nas últimas legislativas.
A imigração é um tema que merece um debate
aprofundado com os mais diversos actores sociais. Sem dúvida que a falta de
emprego e uma integração mal estruturada podem levar a comportamentos
desviantes e ao acumular de tensões raciais mas numa Europa envelhecida os
imigrantes e sobretudo os seus descendentes serão uma força de trabalho decisiva.
Quanto a Calderoli, Valandro, Berlusconi e Companhia, chamá-los de primatas já seria estar a fazer um elogio.
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