segunda-feira, 15 de julho de 2013

E O Orangotango é Ela?



Roberto Calderoli, vice-presidente do Senado italiano e triste desculpa para um ser humano, afirmou que Cécile Kyenge, ministra da Integração, e primeira governante negra em Itália, lembra-lhe um orangotango.


"Adoro animais – ursos e lobos – mas quando olho para imagens de Kyenge não consigo deixar de reparar nos traços de um orangotango, e não estou a dizer que ela seja uma”, referiu numa conferência, vindo agora defender-se que tudo não passou de uma piada.


Calderoli é membro destacado do odioso partido de extrema-direita Liga do Norte, aliado privilegiado dos Executivos presididos por Silvio Berlusconi, tendo ocupado funções ministeriais em duas ocasiões.


Não satisfeito com a sua "tirada humorística", aconselhou Kyenge a ir "exercer funções para o País dela".


Cécile Kyenge, oftalmologista de formação, nasceu na República Democrática do Congo, tendo adquirido nacionalidade italiana em 1994. Nomeada Ministra da Integração no Executivo liderado por Enrico Letta, em Abril deste ano, Kyenge tem sido alvo predilecto da extrema-direita italiana, entre tentativas de agressão e um sem fim dos mais abjectos impropérios.


Em Junho passado, Dolores Valandro, também ela pertencente à Liga do Norte e Conselheira Municipal na cidade de Pádua,  comentando sobre o caso de duas raparigas italianas vítimas de tentativa de violação por um homem de origem africana, soltou no Facebook um "Mas não há ninguém que a viole, ao menos para que possa entender o que sente a vítima de um crime infame? Que vergonha!”, ilustrando com a foto de Kyenge.


Esta escumalha sub-humana fere de morte os princípios europeus de democracia, tolerância e igualdade. O momento socioeconómico que vivemos é terreno propício à proliferação e crescimento de movimentos de extrema-direita, que fazem da imigração bode expiatório para a falta de emprego e o aumento da criminalidade. É disso bom exemplo o lugar que vem ocupando a Frente Nacional em França e nem os países escandinavos, tendencialmente mais tolerantes, escapam a este flagelo. Veja-se o caso dos “Democratas da Suécia” que conquistaram assento parlamentar nas últimas legislativas.


A imigração é um tema que merece um debate aprofundado com os mais diversos actores sociais. Sem dúvida que a falta de emprego e uma integração mal estruturada podem levar a comportamentos desviantes e ao acumular de tensões raciais mas numa Europa envelhecida os imigrantes e sobretudo os seus descendentes serão uma força de trabalho decisiva.

Quanto a Calderoli, Valandro, Berlusconi e Companhia, chamá-los de primatas já seria estar a fazer um elogio.


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