“Esposas de Viseu revelam homens que recorrem a
prostitutas” titulava hoje o IOnline seguido por outras publicações.
Com um misto de curiosidade e vontade de rir lá fui
lendo a notícia que assinalava que “um blog lançado por "esposas de
Viseu" quer dar a conhecer os homens que na cidade recorrem aos serviços
de prostitutas dos bairros das quintas do Grilo e do Galo”.
Ora com um certo espanto lá fui consultar o dito blog.
De fundo preto e simples, deparamo-nos com uma lista de mais de 100 carros (e
motas), identificados pela cor, marca e matricula. O mote, assinalado a
garrafais letras em tons de laranja, não podia ser mais expressivo: “Para que
as nossas conterrâneas não continuem a ser enganadas por homens porcos que as
enganam e tiram da mesa para andarem nas prostitutas da Quinta do Grilo e do
Galo, em Viseu. Saiba aqui quem eles são".
Como devemos encarar isto?
Por um lado temos o “serviço” que alguma mulher
(ou porque não um homem armado em justiceiro) ou mulheres enganadas querem
prestar às “suas conterrâneas” neste ataque cerrado aos prevaricadores… os tais
“homens porcos”. Porém, do outro lado, temos a mais pura violação e devassa da
vida privada que, para bem ou para o mal, é protegida constitucionalmente. A
Lei Fundamental elenca direitos e deveres inatos ao respeito da individualidade
e da condição humana, não sendo sua intenção reduzir-se a uma cartilha de
moral e bons costumes.
Para além dos ditos “homens porcos”, que apesar de
tudo também têm direitos, não nos esqueçamos que também homens solteiros ou por
consentimento recorrem a este tipo de serviços. Será que também estes terão que
ver a sua vida exposta? Estou certo que estas espiãs de trazer por casa não andam
a cruzar bases de dado para ver o estado civil dos “apanhados em flagrante”. E
pobres aqueles que se lembrarem de parar na zona para pedir uma informação,
beber um café ou que tenham o azar de ter um furo, lá vão passar à lista dos
proscritos.
Apesar de não ser propriamente um defensor da
prostituição, é impossível fechar os olhos a uma realidade quase tão antiga
como a própria vida. Há que respeitar a escolha daquelas que o fazem e daqueles
que a ela recorrem desde que livremente. A questão de legalização da
prostituição é uma discussão que faz todo o sentido. Poderá estar aqui a
solução para muitos problemas que lhe estão associados. Mas não me vou alongar
(por ora) que isto é matéria que dá pano para mangas.
Voltando às nossas “esposas de Viseu” recordei-me de
imediato do movimento das esposas indignadas de Bragança que há alguns anos
atrás fizeram furor quando denunciaram aos quatro ventos para o perigo do
número crescente de casas de alterne na região que lhes “levava os maridos”. Nem
o direito a falar na Tv em horário nobre lhes faltou. A culpa, diziam, era das
brasileiras, essas discípulas de Satã que enfeitiçavam os “pobres homens”. Que
se faça justiça a estas “vigilantes de Viseu” que ao menos têm o
discernimento de apontar o dedo acusador para os maridos infiéis mas nesta
“caça às bruxas” o “justo” também pagará pelo pagador. E não nos
esqueçamos, ainda temos a questão da privacidade…
E vocês o que acham?
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