(Foto: Autor desconhecido)
Ao ler “A Voz dos Deuses” de João Aguiar, um livro que narra de forma
despretensiosa e romanceada a vida adulta de Viriato (brilhante guerreiro e
estratega militar que ousou enfrentar as poderosas legiões do Império Romano;
aquele a quem poderíamos apelidar de líder máximo dos Lusitanos) constato mais
uma vez o manancial de grandes épicos e narrativas que a História de um País
(ou a sua “pré”-História, como é o caso) com quase nove séculos de existência
proporcionaria e que lamentavelmente a indústria do cinema (e diga-se da
televisão) não está a aproveitar.
Sobre os EUA, a ainda primeira potência mundial, um país que podemos
apelidar de “jovem”, nos seus pouco mais que dois séculos de existência,
multiplicam-se de forma desmesurada os filmes sobre a sua edificação. Só sobre
a Guerra da Secessão, entre filmes e séries, as opções parecem infindáveis.
Ávido curioso pela Historia (algo que me foi incutido pelo meu pai e pelo
meu avô) e grande fã
de filmes ao estilo de “BraveHeart”, “O Gladiador” ou mesmo “1492 – A Conquista
do Paraíso”, não posso deixar de me lamentar e de certa forma revoltar com a
falta de atenção a que tão rica História de um País é vetada.
Imaginem que glorioso épico daria a vida de D. Afonso Henriques, o pai da
Nação. Um jovem nobre que ainda cedo se viu privado do pai, D. Henrique de
Borgonha, tendo sido tomado debaixo da asa protectora do seu tutor Egas Moniz. Alguém
que fez frente à própria mãe que apoiava Castela e que contra tudo e contra
todos, na força e na adversidade, erigiu uma Nação. A este feito nem faltaria o
notável facto para a época de tão valente guerreiro apenas ter conhecido o seu “descanso
final” com a longa idade de 76 anos.
Que emocionante produção seria feita sobre a Batalha de Aljubarrota. Os
ingredientes que contagiam o público estão lá todos. A coragem, a ousadia de um
exercício de poucos que contra todas as possibilidades derrotou de forma
estrondosa as tropas inimigas (o conceito de “underdogs” tão acarinhado pelos
fãs).
Incontáveis os filmes que se poderiam fazer sobre os “Descobrimentos”. Desde
o dobrar do Cabo das Tormentas por Bartolomeu Dias, à descoberta do Brasil por
Pedro Alvares Cabral e do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama. Imagino
o sorriso orgulhoso e forças retemperadas com que sairíamos das salas de
cinema.
Os próprios “Lusíadas” retratados em filme ou numa mini-série…Que potencial
desperdiçado da intemporal obra de Luís Vaz de Camões.
Poderia prosseguir nesta lista, por dias e dias. O mais difícil é por certo
a escolha…Será que ninguém é capaz de meter uma cunha aos grandes estúdios de
Hollywood ou principais produtoras europeias a ver se pegam nalgum projecto? Se
me arranjarem um número de telefone eu próprio ligo!
Entristece-me também o facto de a própria indústria cinematográfica
portuguesa apostar tão pouco em filmes sobre a nossa História. São raros os
registos, muitos de qualidade duvidosa. Por falar nisso, estou em falta com o
filme “As Linhas de Wellington” sobre as Invasões francesas. Ouvi dizer que
vale a pena…
A falta de recursos é uma incontornável realidade com que os realizadores
nacionais se debatem mas isso por si só não justifica tudo. Porque não deixar
de vez o preconceito, o lugar-comum de que os filmes portugueses só abordam o
drama familiar ou social, numa espécie de fatalidade, de triste fado que nos
acorrenta e que nos limita.
Não estará aqui a exaltação patriótica que tanta falta nos faz em momentos
tão conturbados como o que vivemos?
Sem comentários:
Enviar um comentário