Há verdadeiras injustiças no mundo, uma delas é
certamente a falta de reconhecimento do futebolês. O futebolês, nobre linguagem
desenvolvida pelos locutores e comentadores de futebol na rádio e televisão,
devia ser reconhecido como língua (ou pelo menos dialecto) de pleno direito. Já
repararam bem na riqueza e diversidade cultural que apresenta. Meus caros, que
se eleve o futebolês a Património Cultural da Humanidade.
É verdade que alguns treinadores e jogadores de futebol parecem
também conhecer o futebolês mas sejamos claros não é o mesmo exercício,
falta-lhes um certo requinte.
Em Portugal temos verdadeiros mestres, porque não dizer
poetas desta “nobre arte”. Atentem no manancial de vocábulos e expressões, é
algo único. Não se iludam, estamos perante Arte no seu estado mais puro. É a “magia
da técnica contra a força da táctica”, são os “passes açucarados”, é a jogada
que foi “um poema”, é o golo “de letra” quando não de “antologia”.
Não nos limitemos contudo à arte. O futebolês está
impregnado de conotações religiosas: “ A mão de Deus”; “os deuses do futebol”.
O maior expoente do futebolês em Portugal, figura
incontornável, é sem dúvida o Grande Mestre Gabriel Alves. O antigo comentador
da RTP deu uma nova dimensão ao futebolês. Mais do que um poeta, Gabriel Alves,
no seu jeito profundo e enigmático, deveria ser apelidado de “O Filósofo do
Futebolês”. Senão vejamos:
“A Selecção não jogou bem, nem mal, antes pelo contrário”
(Notável! O “só sei que nada sei” aplicado ao futebol”);
“Fica na retina o cheiro do bom futebol” ou “No estádio
ouve-se um silêncio ensurdecedor” (Fantástico como captura a ambiguidade dos
sentidos!);
“E aí está uma enorme cavalgada de Thuram…Este homem é um
leão!” (Cá está a transfiguração das espécies com toques de mitologia);
“João Pinto vai centrar para o meio da confusão mas não
está lá ninguém!” (Uma crítica ao espírito individualista que grassa na nossa
sociedade. A “solidão entre muitos”, o paradigma da vida nas grandes cidades.
Brilhante!);
“Juskowiak, a vantagem de ter duas pernas” (A constatação
do óbvio ganha um novo sentido);
“Reparem como os jogadores do Bayern movimentam-se
descrevendo figuras geométricas…O futebol é um arte plástica!” (??!! Gabriel
peço desculpa mas agora perdi-me… Importa-se de repetir?)
“O jogador foi atingido por um objecto lançado
provavelmente por um telespectador!” (Ui, entrámos à bruta no domínio das
Ciências! A existência de dimensões paralelas, o teletransporte de objectos.
Prodigioso!)
É impossível não nos sentirmos emocionados com este
brilhantismo!
Termino com um apelo. É tempo de passarmos das palavras
aos actos. Compilem-se dossiers, organizem-se petições, recolham-se
assinaturas… Juntos faremos do futebolês Património Mundial!
Ahaha, muito bom, muito bom :D
ResponderEliminarahahaha muito bom! Eu seria uma aprendiz do futubolês com certeza :P
ResponderEliminarPérolas de sabedoria que o tornaram conhecido no meio como Gabriel, o Pensador...
ResponderEliminarahaha que risada! Adorei!
ResponderEliminarEstou contigo Dr.
ResponderEliminarTinha que escrever este artigo eheh, quando estamos a ouvir o relato de um jogo de futebol parece que entramos noutra dimensão...É com cada pérola!
ResponderEliminarBeijos para as meninas e um abraço para o Luís. Fico contente por terem gostado ;)
Muito bom. Conheço mal estes meandros, quero dizer: não conheço nada. Ou antes pelo contrário...
ResponderEliminarAmo este post. Se há coisa que me enerva quando tento ver um jogo de futebol (pois acabo sempre por me distrair com qualquer outra coisa) é ter de ouvir estes Senhores a dizer verdadeiras barbaridas. Também gosto particularmente dos jogos que são emitidos no canal do Benfica em que estão dois comentadores de frente para o ecrã enquanto o jogo se passa lá atrás sintonizado na "Sport Tv"!
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