terça-feira, 9 de outubro de 2012

Futebolês a Património Mundial




Há verdadeiras injustiças no mundo, uma delas é certamente a falta de reconhecimento do futebolês. O futebolês, nobre linguagem desenvolvida pelos locutores e comentadores de futebol na rádio e televisão, devia ser reconhecido como língua (ou pelo menos dialecto) de pleno direito. Já repararam bem na riqueza e diversidade cultural que apresenta. Meus caros, que se eleve o futebolês a Património Cultural da Humanidade.

É verdade que alguns treinadores e jogadores de futebol parecem também conhecer o futebolês mas sejamos claros não é o mesmo exercício, falta-lhes um certo requinte.

Em Portugal temos verdadeiros mestres, porque não dizer poetas desta “nobre arte”. Atentem no manancial de vocábulos e expressões, é algo único. Não se iludam, estamos perante Arte no seu estado mais puro. É a “magia da técnica contra a força da táctica”, são os “passes açucarados”, é a jogada que foi “um poema”, é o golo “de letra” quando não de “antologia”.

Não nos limitemos contudo à arte. O futebolês está impregnado de conotações religiosas: “ A mão de Deus”; “os deuses do futebol”.

O maior expoente do futebolês em Portugal, figura incontornável, é sem dúvida o Grande Mestre Gabriel Alves. O antigo comentador da RTP deu uma nova dimensão ao futebolês. Mais do que um poeta, Gabriel Alves, no seu jeito profundo e enigmático, deveria ser apelidado de “O Filósofo do Futebolês”. Senão vejamos:

“A Selecção não jogou bem, nem mal, antes pelo contrário” (Notável! O “só sei que nada sei” aplicado ao futebol”);

“Fica na retina o cheiro do bom futebol” ou “No estádio ouve-se um silêncio ensurdecedor” (Fantástico como captura a ambiguidade dos sentidos!);

“E aí está uma enorme cavalgada de Thuram…Este homem é um leão!” (Cá está a transfiguração das espécies com toques de mitologia);

“João Pinto vai centrar para o meio da confusão mas não está lá ninguém!” (Uma crítica ao espírito individualista que grassa na nossa sociedade. A “solidão entre muitos”, o paradigma da vida nas grandes cidades. Brilhante!);

“Juskowiak, a vantagem de ter duas pernas” (A constatação do óbvio ganha um novo sentido);

“Reparem como os jogadores do Bayern movimentam-se descrevendo figuras geométricas…O futebol é um arte plástica!” (??!! Gabriel peço desculpa mas agora perdi-me… Importa-se de repetir?)

“O jogador foi atingido por um objecto lançado provavelmente por um telespectador!” (Ui, entrámos à bruta no domínio das Ciências! A existência de dimensões paralelas, o teletransporte de objectos. Prodigioso!)


É impossível não nos sentirmos emocionados com este brilhantismo!

Termino com um apelo. É tempo de passarmos das palavras aos actos. Compilem-se dossiers, organizem-se petições, recolham-se assinaturas… Juntos faremos do futebolês Património Mundial!


8 comentários:

  1. ahahaha muito bom! Eu seria uma aprendiz do futubolês com certeza :P

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  2. Pérolas de sabedoria que o tornaram conhecido no meio como Gabriel, o Pensador...

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  3. Tinha que escrever este artigo eheh, quando estamos a ouvir o relato de um jogo de futebol parece que entramos noutra dimensão...É com cada pérola!

    Beijos para as meninas e um abraço para o Luís. Fico contente por terem gostado ;)

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  4. Muito bom. Conheço mal estes meandros, quero dizer: não conheço nada. Ou antes pelo contrário...

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  5. Amo este post. Se há coisa que me enerva quando tento ver um jogo de futebol (pois acabo sempre por me distrair com qualquer outra coisa) é ter de ouvir estes Senhores a dizer verdadeiras barbaridas. Também gosto particularmente dos jogos que são emitidos no canal do Benfica em que estão dois comentadores de frente para o ecrã enquanto o jogo se passa lá atrás sintonizado na "Sport Tv"!

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